12.2.12

Das viagens com pés ou rodas ou telas ou páginas - PT. 1

Era o último dia do ano passado e em terra estranha guardava as lembranças de uma noite que possuiu todos os ingredientes para concorrer ao top 10 “momentosmemoráveisdavidaatéagora” e como na apuração pós-desfile carnavalesco, não entrou por alguns décimos. Motivo? Um encontro (leia-se topada) de duração inferior a cinco minutos. Agora por que ficar remoendo aquela casualidade até o fim da festa e início da manhã, nunca se soube. Um pouquinho de obsessão faz bem a todos, brindemos a isso. E foi no mesmo dia meu retorno à terra natal, talvez buscando um certo afastamento das comemorações exageradas que naquele momento me eram um não-lugar. Naturalmente carrego em toda viagem um livro e o que estava comigo naquele momento era “Memórias de Minhas Putas Tristes” do García Marquez. E enquanto ia lendo, mais percebia que um fato inédito e espantoso estava acontecendo: eu podia viajar para aquela história. Não apenas lê-la, mas caminhar por entre aquele enredo, acompanhar de perto o drama daquele senhor que sofria pela velhice e conseqüente impotência sexual ao mesmo tempo em que fazia uma ode à sua juventude. De volta ao lar, última refeição do ano e sem vontade de participar do “momento família” pré-ano novo, assisto a um filme sobre um apocalipse envolvendo zumbis em uma ilha, talvez uma tentativa midiático visando desde os primeiros momentos do novo ano implantar o tal temor de um fim-de-mundo, ou puro acaso mesmo. No primeiro dia do ano costumamos estar mais propensos a reparar as coisas, criar novos começos, desta forma me senti impelido a ler “Como Ser Legal”, de Nick Hornby. Um livro com título de auto-ajuda seria o ideal para um começo de ano, certo? O que acontece é que esse livro é um dos maiores exemplos para a frase “não se deve julgar um livro pela capa”. A narrativa é sobre uma mulher de meia-idade com marido e dois filhos, classe média, e que sempre achou ser uma “pessoa legal” por defender sua família, ter um seleto grupo de amigos e morar em um lugar confortável, até que uma mudança filosófica repentina de seu marido a faz questionar o que representa, de fato, “ser legal” no nosso atual momento. Dessa vez não me transportei até o Reino Unido, não entrei na casa da família, mas podia escutar Kate perguntando para mim “hey, você sabe me dizer se eu sou legal? e você, é uma pessoa legal?”

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